FELICIDADE NUM CAMPO DE MELANCIAS
Por Yashar Kemal
Que é felicidade? Sabemos que existe; mas de que é feita? O ser humano nunca deixou de propor-se esta questão. Busca a felicidade obstinadamente.
Eu devia Ter 14 anos e era guarda num campo de melancias , emprego que tive durante anos. Certa manhã levantei-me de meu leito campestre. Para leste, no alto do monte, estava Vênus, sozinha, a brilhar intensamente. Soprava uma aragem matinal. Eu sentia todo o meu corpo transido de alegria de esta no meio daquela beleza. Todo ele irradiava, da cabeça aos pés; tinha a sensação de me fundir, de voar.
Durante muito tempo levantei-me com a aurora para encontrar a sensação daquela manhã. Voltei a sentir o frescor aragem, mas nunca reencontrei a sensação daquele instante. Aconteceu sentir-me transportar de alegria. Nunca mais deparei de novo com aquele instante de felicidade, mas tentar reencontrá-lo fez com que me sentisse feliz. Quando mais tarde tornei-me tratorista e começávamos e trabalhar ao romper do dia para evitar o calor, encontrei no odor da terra recém revolvida, misturado ao do combustível, essa sensação de alegria que apossava de todo o meu ser.
Ver uma flor desabrochar, uma abelha reluzir contra os raios do sol, um aperto de mão amistoso, sentir o cheiro dos cabelos de uma mulher, faziam-me feliz.
Minha vontade era dizer: “A felicidade é a alegria”, mas é mais que isso. Há qualquer coisa para lá da alegria, uma sensação indizível que perseguimos durante toda a nossa existência. Em todas as épocas o homem teve sua maneira de procurar a felicidade. Continuará provavelmente a ser assim no futuro.